Digitalização e Eficiência

Estamos mergulhando na temática de um Mundo 4.0, cujo aríete é a digitalização de quase todas as tarefas, processos, estruturas.

 

A digitalização é, fundamentalmente, a ampliação e o aprofundamento de recursos tecnológicos integrados a dezenas de interfaces, como estruturas biológicas. Mas, olhada apenas sob a ótica das manchetes e palestras, pode ser usada de forma generalizada, pouco orientada e, pior : ser vista como um fim em si mesma. Na verdade processos de mudança e transformação de modelos de negócios estão em curso em toda a última década por diversos fatores, e a adoção de tecnologia massiva (e digitalização, se é possível separar) é uma das alavancas. Existem fatores (que aparecerão isolados ou em geral em conjunto) : culturais, mudanças de padrões de consumo, inovação, apenas para citar os mais notórios.

De qualquer forma a digitalização deveria ser orientada por diretrizes que considero estratégicas :

  1. Melhoria significativa da eficiência de negócios
  2. Ampliação do valor diferenciador e/ou percebido pelos clientes
  3. Segurança seja focada em preceitos legais, de sustentabilidade ou de preservação de integralidade da vida.

Gostaria de me deter na primeira diretriz : preocupação com a eficiência dos negócios deveria ser tratada quase como um axioma, uma condição básica e primária a ser observada sempre, sem exceção, em qualquer organização.

Por quê?  A frente de inúmeras possibilidades de respostas eu diria que destacaria 3. Primeiro porque é um preceito de responsabilidade social sermos eficientes num mundo de recursos limitados.

Segundo porque é um preceito da estrutura cognitiva do ser humano, na sua própria subsistência a busca de eficiência energética para sobreviver : as atividades de sobrevivência, em último caso, consomem a energia que geram. Um desequilíbrio (gastar mais do que é gerado) poderia levar à nossa extinção!

Por fim, mas muito importante: num mundo competitivo, onde a complexidade só tem aumentado a eficiência operacional pode até ser uma diferenciação mas  é seguramente uma condição básica de sobrevivência.

Assim acredito que num processo de digitalização, a busca de aumento de eficiência deverá ser perseguida como motivador básico.

Mercados em crescimento acelerado ou fortemente oligopolizados criam condições ou permitem aos profissionais decisores das empresas  ignorarem ou postergarem a luta pela eficiência operacional. Momentos e horizontes de “bonanza” podem distorcer modelos e de negócios e não requerer na cultura organizacional, que a busca contínua pela eficiência seja tratada como um valor ou mesmo uma competência essencial. Mas são contextos cada vez mais raros.

Quando ocorre transitoriamente, por um grande sucesso de um produto, ou mesmo de uma empresa, a situação é extremamente perigosa. A empresa acaba por “acomodar-se” perigosamente ou reduz a atenção, formando um cenário ideal para o surgimento de competidores (diretos ou indiretos) com alto poder de criar danos significativos.

A busca da eficiência em negócios é tão importante que deve ser estruturado antes da digitalização.

Mas o que é “estrutura-la”?

Como deve operar no nível da cultura organizacional, ou melhor, como um de seus elementos essenciais, se constituirá num pré-requisito, num atributo básico para o uso (também eficiente) da digitalização.

Atuando num nível da cultura e apoiando estratégias diferenciadoras, a eficiência molda a atitude de atenção contínua dos profissionais e se constitui num filtro para escolhas, decisões. E, uma constante na gestão de processos e na construção de projetos.

Como o desafio  de digitalização de uma empresa é uma mudança significativa em nível de processos e da cultura, ter a eficiência como pré-requisito, alavancará a preocupação contínua por melhores resultados.

Um processo de digitalização deve ser pensado a partir da busca da eficiência, para ampliá-lo em extensão e profundidade, de forma muito focada e adicionada à construção de valor diferenciador e percebido pelos seus clientes (ou público alvo).

As decisões deveriam sempre serem direcionadas pela pergunta “isto amplia nossa eficiência?”. A resposta desejável “sim” ou a indesejada “não”, não são absolutas, logo insuficientes, mas obrigatórias como direcionadoras e aceleradoras das decisões.

A adoção de processos de digitalização que reduzem a eficiência só seriam justificados se o efeito for temporário e administrado com cuidado ou quando a ampliação da vantagem competitiva sobre concorrentes ou no valor expresso e percebido pelos clientes for muito significativa. Neste caso a vantagem competitiva deverá ser suficiente para que seus resultados (expressivos) para a organização, sejam capazes de financiar a busca imediata do aumento da eficiência perdida. Aliás, que deve ser vista como

A eficiência é algo a ser cultivado e perseguido continuamente. Quando atinge o status de ser um atributo de cultura, portanto já faz parte do “jeito de ser” de uma organização e de seus profissionais, trará impactos que ultrapassam os locais de trabalhos contribuindo para mudanças sociais enormes.

Profissionais conscientes da necessidade, da importância e dos benefícios da eficiência, ampliarão sua visão de mundo e perceberão o impacto sócio ambiental deste comportamento/capacidade. A digitalização promete ampliar estes resultados e multiplicar seus preceitos mais rápida e facilmente.

Este é mais um incentivo para que a digitalização seja programada e profundamente planejada.

Bastante comum, que hoje seja capitaneada pelas áreas de TI das organizações, num processo curioso de volta ampliada de poder e influência para estas áreas, como não se via deste os grandes “CPD´s” da década de 80.

Dada a integração de sistemas necessária e ampla, nada mais natural. Importante reforçar que estamos falando de uma mudança organizacional ampla e algumas competências deverão ser complementadas para que a área de TI realize bem este enorme desafio.

Uma parceria com a área de RH e adoção de preceitos de “change management” aumentarão muito a chances de sucesso e reduzirão enormemente os fracassos (pois de alguma forma ocorrerão).

Digitalização não deve ser vista como uma alteração de “sistemas” pois necessariamente absorve e impacta todas as áreas e, todos os processos vitais de uma organização. Sem a devida atenção ao fator humano e aos processos, seus investimentos serão maiores que o esperado e, possivelmente, muito ineficientes diante da ótica do capital empregado para a ampliação da capacidade competitiva ou de sobrevivência de uma organização.

A possibilidade de ampliar a eficiência operativa ou de negócios com a digitalização é gigantesca. Possivelmente maior do que em qualquer momento da história das organizações (isto inclui 1º setor, Governo e 3º Setor, organizações da sociedade civil).

Este é o motivo para a eficiência operacional ser o motivador, o pressuposto e o resultado a ser perseguido!.

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